Publicação que debate a Bioeconomia é lançada em Belém

Por Instituto Peabiru
Publicado em 27/06/2024

Mesa de apresentação do Instituto Peabiru. Foto: Tiago Chaves.

O livro “Bioeconomia Para Quem? Bases para um desenvolvimento sustentável na Amazônia”, uma coletânea de 12 artigos assinados por 32 pesquisadores de instituições acadêmicas, foi lançado no último dia 19, quarta-feira, no Auditório da Coordenadoria de Capacitação e Desenvolvimento (CAPACIT) na UFPA, em Belém. O lançamento foi acompanhado de um seminário sobre as diversas temáticas abordadas na publicação, acerca da bioeconomia e das cadeias produtivas da Amazônia. O evento contou com a presença de Emmanuel Tourinho, reitor da UFPA, Jacques Marcovitch, ex-reitor da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Grupo de Pesquisa Bioeconomia (USP/INPA/UFPA/Peabiru), além dos pesquisadores envolvidos na escrita do livro.

“O tema da bioeconomia tem sido muito discutido para pensar o desenvolvimento da Amazônia. Então, a realização desse seminário é uma oportunidade para que possamos falar das várias concepções de bioeconomia e do que cada uma representa, efetivamente, para quem vive na região amazônica”, afirma o reitor da UFPA, Emmanuel Tourinho. “Esse evento é importante porque temos vários atores: a universidade, governos e indústrias. É um espaço de diálogo que nos permite aprofundar diferentes visões e ver as contribuições de cada uma delas para essa reflexão necessária e fundamental neste momento em que discutimos novos modelos para o desenvolvimento social e econômico da região”, finaliza o reitor.

O Instituto Peabiru está presente na publicação com dois artigos. O primeiro artigo debate a cadeia de valor do açaí e as relações socioeconômicas dos extrativistas com a indústria local, destacando os aspectos relacionados à proteção e valorização das práticas extrativistas na Amazônia. O conteúdo é de autoria dos colaboradores Manoel Potiguar, gerente de projetos, Flora Bittencourt, coordenadora de programas e Thiara Fernandes, engenheira agrônoma.

“O nosso artigo traz a revisão do que é bioeconomia, e quem são os grupos sociais dentro dos territórios. Nós abordamos a questão do trabalho do peconheiro em uma leitura sobre como essa função é feita a partir da socialização das crianças à colheita do açaí. E isso traz a questão da pressão de mercado, e como esses jovens são impactados a partir disso, pois requer mais esforço e mais trabalho penoso. Além disso, falamos sobre territorialidade, direitos civis das comunidades ribeirinhas e extrativistas, e como tudo isso se relaciona com a cultura daquele lugar”, comenta Thiara Fernandes.

Durante o lançamento, o agricultor e coletor de açaí Carlos Antônio Teles foi um dos convidados da banca do Instituto Peabiru para falar sobre o artigo. Na ocasião, ele abordou as dificuldades vivenciadas pelos extrativistas do município Acará (PA), questionando as mudanças realizadas nos municípios amazônicos e chamando atenção para a emergência da ausência de políticas públicas que atendam esses locais – que mesmo sendo centros de pesquisas e referência da cultura e socioeconomia da região amazônica, seguem esquecidos em momentos de tomada de decisão e protagonismo social.

“A gente se pergunta realmente, bioeconomia para quem? Será que tem chegado a quem gera a economia? Porque a gente sabe que quem gera a economia é o pequeno agricultor, o produtor de açaí, e nós nos perguntamos se realmente tem chegado a eles algum benefício. É preciso que as políticas públicas cheguem, para que eu consiga ter uma qualidade de vida melhor, mas continuando a viver e trabalhar no meu ambiente. Já pensou se as pessoas que vivem no sítio se mudam para a cidade em busca de uma vida melhor? Isso ia gerar um impacto muito grande. Então eu preciso ter acesso a essas qualidades de saúde, educação, transporte, moradia no lugar que eu convivo ali”, aponta Carlos Antônio.

O segundo artigo, que tem como autora principal a pesquisadora Vera Imperatriz-Fonseca e co-autoria de João Meirelles, Hermógenes Sá, diretor geral e diretor de operações do Instituto Peabiru, respectivamente, e a também pesquisadora Ana Carolina Mendes dos Santos, fala sobre a cadeia de valor da meliponicultura (criação de abelhas sem ferrão) na Amazônia. O artigo aborda a criação das abelhas e como o cultivo delas é uma ferramenta que potencializa a conservação da biodiversidade, a polinização de cultivos e a geração de renda para comunidades locais amazônicas.

O professor José Augusto Lacerda, coordenador do Ateliê de Negócios Transformadores da Amazônia (ATENTA / UFPA), coordenador do projeto Bioeconomia Inclusiva pela UFPA e um dos autores presentes no livro, falou sobre a importância da realização do evento na Universidade: “acolher um grupo privilegiado de colegas e de instituições na nossa casa, antes da COP-30 do ano que vem, é de fato uma oportunidade muito frutífera. Infelizmente, muitas organizações externas tentam ditar o que e como devemos fazer na Amazônia e no Brasil. É essencial que fique claro que são as populações locais que entendem dessas questões. Nós, que consumimos o açaí desde criança e pesquisamos essas cadeias há décadas, não organizações com capital financeiro, que devem ditar as regras. É instigante receber pessoas de fora e discutir isso na UFPA. É uma honra”, finaliza o professor José Augusto.

O livro “Bioeconomia Para Quem? Bases para um desenvolvimento sustentável na Amazônia” está disponível para download gratuito através do link: https://www.livrosabertos.abcd.usp.br/portaldelivrosUSP/catalog/book/1337 

Texto: Giovanna Martini, sob supervisão de Tiago Chaves.

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