Extrativistas são elo mais frágil da cadeia produtiva do açaí marajoara, aponta relatório

Por Instituto Peabiru
Publicado em 09/08/2013
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Açaí corresponde a 86% dos produtos florestais não-madeireiros do Marajó

O açaí se tornou produto de alcance nacional e internacional, com alto valor econômico. Mas a cadeia de produção deste fruto da biodiversidade e da cultura da região amazônica ainda deixa poucos benefícios para os produtores extrativistas do arquipélago do Marajó, no Pará. O relatório com os primeiros resultados do projeto de fortalecimento dos Arranjos Produtivos Locais (APL’s) do açaí marajoara, elaborado pelo Instituto Peabiru, como parte do Programa Viva Marajó, aponta para a fragilidade das comunidades extrativistas neste processo.

O documento faz o retrato geral das relações formais e informais desse mercado, assim como revela os gargalos e limitações da cadeia, onde as comunidades ribeirinhas, principais coletoras do fruto, estão ligadas, em sua grande maioria, a atravessadores e outros intermediários. De acordo com o pesquisador Carlos Augusto Ramos, um dos responsáveis pelo relatório, uma cooperativa que use uma fábrica alugada para processar o produto in natura, por exemplo, tem dificuldades desde a negociação, “pois o costume é negociarem em lata ou rasa, mas o mercado só negocia a quilo”, explica.  Outro problema enfrentado pelo pequeno produtor é conseguir a certificação orgânica, além de pouco acesso a crédito, produção na entressafra, escoamento e obstáculos ligados à educação.

Segundo o último Censo Agropecuário do IBGE, de 2009, a produção do açaí corresponde a 86% dos produtos florestais não-madeireiros do Marajó, seguido pelo palmito e castanha-do-pará. O relatório destaca a contradição quanto aos números da comercialização, pois não há um sistema consolidado de monitoramento dos efeitos ambientais, sociais e culturais da venda em larga escala do açaí marajoara. “Com a falta de políticas públicas para a implantação deste sistema de acompanhamento, cabe à ciência regional desvendar, mesmo sem a estrutura adequada, o novo estado de commoditie que o açaí hoje representa”, diz o estudo.

O documento foi construído a partir da participação de atores locais dos municípios de Afuá, Bagre, Chaves, Curralinho, Gurupá, Melgaço, Muaná e Portel, no Marajó, e outras instituições parceiras, associações e sindicatos rurais, órgãos governamentais, ONGs e empresas. Durante cinco dias, todos contribuíram para o mapeamento e planejamento estratégico da APL do açaí marajoara. Os trabalhos ocorreram em Belém, em maio, e continuam durante todo o ano com o objetivo de  capacitar, qualificar e aprimorar de processos operacionais da cadeia de valor.

Foi formado ainda o Núcleo Gestor do APL açaí, com a participação dos marajoaras e de instituições como as Secretarias de Estado da Saúde (Sespa) e Agricultura (Sagri), Empresa de Assistência Técnica e Extenção Rural (Emater), Agência de Defesa Agropecuária (Adepará), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), Banco da Amazônia, ICMBio, entre outros. O Núcleo terá com principal função o desenvolvimento e monitoramento das ações contidas no Planejamento Estratégico construídos pelos participantes.

O projeto tem o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o Ministério do Meio Ambiente. A Cooperação Técnica Alemã (GIZ), o Colegiado de Desenvolvimento Territorial do Marajó (Codetem) e o Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) são parceiros.

Para o diretor do Instituto Peabiru, João Meirelles Filho, o mapeamento participativo desta cadeia de valor é um passo importante para o entendimento da importância do açaí na pauta das exportações paraenses e no estabelecimento de estratégias pelas comunidades extrativistas. “Com esse trabalho as lideranças comunitárias podem reconhecer suas posições no jogo econômico da produção do açaí e reivindicarem relações comerciais mais justas entre todos os envolvidos”, afirma.

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