Jovens de Curralinho se tornam Agentes Ambientais pelo projeto Este Rio é Minha Escola
Mais de 100 jovens estudantes do município de Curralinho (Marajó-PA), receberam o certificado de conclusão do curso de formação de agentes ambientais do projeto “Este Rio é Minha Escola”, realizado pelo Instituto Peabiru, com apoio do Criança Esperança. A entrega ocorreu em um evento realizado no ginásio da escola Francisco Chagas da Silva, no dia 5 de junho. Participaram da solenidade pais de alunos e representantes das instituições parceiras: Prefeitura de Curralinho, através da Secretaria Municipal de Educação, Colegiado de Desenvolvimento Territorial do Marajó (CODETEM), Corpo de Bombeiros, Colônia de Pescadores Z-37, ONG Lupa Marajó e Cooperativa Sementes do Marajó.
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Durante 4 meses os estudantes da rede municipal participaram de aulas que tiveram como temáticas legislações ambientais, a recuperação e conservação de recursos naturais, como a pesca e demais assuntos relacionados à sustentabilidade socioambiental. Foram 48 horas de curso para crianças e adolescentes entre 10 a 17 anos, sendo 40 deles filhos de pescadores e os demais indicados pelo Corpo de Bombeiros, que realiza no município o projeto Escola da Vida e permitiu a integração com o Este Rio é Minha Escola.
“As parcerias são importantes não só para a realização de um curso como este, mas para todo o desenvolvimento local. Nós costumamos dizer que todo o movimento que acontece em Curralinho hoje, desde a educação ambiental destes jovens, até as discussões sobre fundos florestais comunitários, que é algo mais relacionado à economia local, só é possível porque há todo um envolvimento da sociedade de Curralinho. E todos os projetos estão interligados”, afirma Manoel Potiguar, gerente de projetos do Instituto Peabiru.
A formação desta que é a segunda turma de agentes ambientais em Curralinho, pelo Instituto Peabiru (a primeira ocorreu em 2015), faz parte de uma conjuntura de iniciativas realizadas na localidade, que discutem o fortalecimento de cadeias produtivas e à pesca, por exemplo. “Quando realizamos projetos como o Marajó Viva Pesca, que tratou da recuperação e conservação de recursos pesqueiros no Rio Canaticu, que fica aqui em Curralinho, sempre temos em mente que a parte da conservação só é possível quando lidamos com as futuras gerações. Por isso, nossas iniciativas sempre trazem um subprojeto de educação ambiental. No caso do Este Rio é Minha Escola, se tratou de um projeto exclusivamente para a formação de agentes ambientais, que está dentro desta lógica de sustentabilidade e do fortalecimento dos atores locais”, reforça Manoel.
CONHECIMENTO PARA FUTURAS GERAÇÕES – Para o pai, pescador e representante do CODETEM, Ismael Lopes dos Santos, que teve 4 filhos participando do curso, esta é uma oportunidade única que os mais jovens não podem desperdiçar. “Antes, a gente não tinha isso aqui, não discutíamos educação ambiental. Então eu vejo com muito orgulho meus filhos recebendo este certificado. Toda uma geração com essa visão de preservação, de como saber utilizar o que a natureza nos oferece, é realmente muito importante”, relata Ismael.
Samara Monteiro, de 15 anos e nova agente ambiental, diz que agora vai tentar repassar os conhecimentos recebidos para todos, inclusive desconhecidos. “O barco é o nosso principal transporte aqui, para irmos a outro município. E é muito comum as pessoas jogarem um copo, uma latinha, no rio. Quando isso acontecer, tentarei conversar com a pessoa sobre a importância de cuidarmos do meio ambiente, que é onde a gente vive, afinal”, diz a estudante do 1° ano do Ensino Médio.
O pensamento é compartilhado pelo agente ambiental Jhayk Tenório, de 14 anos e que está no 8° Ano. “Aprendemos muita coisa, como legislação mas, principalmente, como respeitar o meio ambiente. É algo que vou repassar para o meu pai, que é pescador. A gente precisa respeitar o tempo de desova, por exemplo, ou no futuro não teremos mais peixe para comer”, conta.
A realização do curso de formação de agentes ambientais foi elogiada pelo prefeito de Curralinho, Leo Arruda, que participou da entrega dos certificados. “Hoje o município participa do projeto Selo UNICEF Município Aprovado, que vem justamente contribuir para que possamos realizar iniciativas voltadas para as crianças e adolescentes. E um projeto como o Este Rio é Minha Escola, está dentro da nossa realidade, ao fomentar a discussão ambiental junto a estes jovens que receberam este diploma. Com certeza é algo que eles irão levar para a vida”, declarou o prefeito. O projeto Selo UNICEF Município Aprovado é realizado em toda a Amazônia Legal pela UNICEF, Instituto Peabiru e Escola de Formação de Governantes.
O mobilizador do Instituto Peabiru, Redivaldo Pantoja, diz que a procura pelo curso foi intensa e que há um grande interesse pela abertura de uma turma. “Recebi relatos de que os alunos gostaram muito. Mas, independente disso, o mais importante é fazer com que ocorra uma transformação no modo de pensar destes jovens. Durante a cerimônia, muitos pais nos procuraram para saber se haverá outras turmas, isso mostra um interesse da região em continuar a debater o tema. Eu, como um morador de lá, acho muito positivo”, conta Redivaldo, mais conhecido como “Diquito”.
O interesse dos jovens e a ampla participação durante o curso, é um dos pontos que a Bióloga e doutoranda pela Universidade Federal do Pará (UFPA), Louise Neiva Perez, destaca durante a realização do curso, no qual foi uma das professoras. “Durante as aulas, nós, professores, fomos aprendendo com eles. O conhecimento empírico, aquilo eles vivem no dia a dia, possibilitou que o conteúdo repassado por nós fosse adaptado para algo que eles já conhecem, como é o caso da pesca. Isso fez com que eles tivessem uma chance maior de absorver o conteúdo – algo que pudemos comprovar durante o dois últimos módulos, onde cada grupo apresentou um tema e vimos que eles realmente tinham aprendido”, relata Louise.
TEMA TRANSVERSAL – Ao longo de sua história, o Instituto Peabiru sempre buscou incluir em suas iniciativas a realização de cursos de educação ambiental, ou ao menos incluir o debate em diversas ações, como Ecoturismo de Base Comunitária, por exemplo. A formação dos novos agentes ambientais integra um ciclo quase 9 anos ininterruptos de realização do curso na Amazônia.
“Esta é a segunda turma em Curralinho e, se pudermos, vamos continuar atuando na região, formando novos jovens, a exemplo do que ocorreu no município de Curuçá”, lembra João Meirelles Filho, diretor geral do Instituto Peabiru, citando que a instituição promoveu o curso no município do Salgado Paraense entre os anos de 2007 a 2013.
“É importante lembrar que Curralinho foi considerado município prioritário do Pacto pela Educação, lançado pelo Governo do Estado do Pará, no qual o Instituto Peabiru integra justamente por esta atuação no Marajó”, reforça Meirelles. “Daí a necessidade de continuarmos envolvendo os jovens e manter todas as parcerias. Só assim alcançaremos a transformação social necessária para que nossa região atinja o protagonismo esperado para se desenvolver de dentro para fora, de baixo para cima”, finaliza João.
Reconhecimento – Recentemente, o Instituto Peabiru recebeu do Ministério da Educação e Cultura (MEC), o reconhecimento de inovação e criatividade na educação básica. Constam da lista 138 instituições que já trilham um longo caminho na prática da inovação, caso do Instituto Peabiru e de outras 4 no Pará, e 40 organizações que estão caminhando na direção da inovação com vistas a garantir qualidade à educação oferecida. Saiba mais aqui.
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